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E agora, o que nos reserva o futuro?

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Esse período de quarentena está sendo, embora sofrido, um momento bastante interessante na história da humanidade. Tenho 31 anos e sou de uma geração que já nasceu em um mundo razoavelmente conectado. Por outro lado, não tinha vivido o suficiente para presenciar algum acontecimento que acelerasse de forma tão intensa uma transformação em nossos cotidianos. As coisas estão mudando alucinantemente. Mas e agora, o que nos reserva o futuro?

Ao tentar analisar tudo o que está acontecendo em tempo real, agora ao nosso redor, não posso deixar de pensar que sim, estão certos os que dizem que o mundo não será mais o mesmo. A questão é que se acham que é porque depois disso migraremos para um mundo onde todas as pessoas são livres e felizes, é provável que estejam enganados. O mundo vai mudar sim, mas não da forma que a maioria das pessoas imagina.

O Big Brother da vida real

É muito curioso ver o rumo que as coisas estão tomando. Em 1948, o escritor hindu britânico Eric Arthur Blair, mais conhecido por seu pseudônimo George Orwell, escreveu o livro 1984. Nele, o autor narra a história de Winston, protagonista da mais famosa distopia já escrita.

No livro, o Estado usa as “teletelas” para passar propaganda política o dia inteiro, mas também transmite aulas de ginástica e outras coisas que promovem o que o Estado considera direito. Tudo é monitorado o tempo todo, e é como se todos os cidadãos estivessem vivendo numa versão vida real do Big Brother.

O problema, caro leitor, é que estamos caminhando a passos largos para uma realidade muito semelhante a essa. Conforme um artigo que escrevemos há algumas semanas atrás (veja aqui), o controle da epidemia está servindo como a justificativa perfeita para governos, ao redor do mundo inteiro, lançarem mão de artifícios que permitem controlar a localização de seus cidadãos. Este controle às vezes é feito em tempo real, outras vezes não. Além disso estão também monitorando até mesmo com quem cada pessoa cruzou ou teve algum contato. Conforme previu Orwell: “o Grande Irmão está de olho em você”.

Qual a consequência desse novo padrão?

É plausível pensar que a situação atual requer medidas extraordinárias, mas o problema é que, depois de passada essa pandemia, é pouco provável que os Governos e empresas envolvidas nesse tipo de monitoramento queiram dar um passo para trás, assim esse grau de monitoramento será o padrão daqui para frente.

Você pode até achar que é um exagero, que depois tudo voltará ao normal. Mas, lamento informar, o normal a partir de agora vai ser outro. E tenho evidências que corroboram o que estou dizendo. Em 10 de Abril de 2020, a Apple e o Google anunciaram que estão desenvolvendo um novo sistema de monitoramento para iOS e Android, que vai usar a tecnologia Bluetooth Low Energy, para mapear a proximidade entre as pessoas, registrando todos os indivíduos de quem você se aproximou fisicamente.

Se alguma pessoa de quem você se aproximou testar positivo para o coronavírus, você será notificado. Esse novo sistema será implantado em todos os smartphones Android e iOS em uma atualização que, a partir de então, servirão como base para alimentar um sistema (aplicativo) criado pelos governos. Repito: soa bastante razoável em um cenário em que estamos lutando contra um inimigo invisível. Mas a pergunta é: o que vai acontecer com esses dados e sistemas quando o coronavírus não for mais uma ameaça?

Medidas que vem para ficar

Um bom exemplo de como esse tipo de medida costuma vir para ficar, é o Patriot Act. Ato aprovado pelo congresso americano, após os atentados terroristas de 2001, que na prática permite que o governo americano espione qualquer cidadão. Era para ficar em vigor até 2005, mas hoje quase 20 anos depois, continua em vigor com alterações mínimas.

Na China, desde 2014 está em ação um sistema de pontuação social, existem vários softwares conferindo uma pontuação para cada cidadão. Desde 2019, esses sistemas ganharam mais poder e passaram a valer regras mais duras. Existem várias empresas responsáveis por esses sistemas (aplicativos), mas a ideia geral é a seguinte: você se cadastra (o cadastro é obrigatório) e começa com um determinado número de pontos. Foi bem nos estudos? Doou sangue? Fez trabalho voluntário? Parabéns! Ganhou pontos. Atravessou fora da faixa? Atrasou o pagamento de impostos? Passeou com o cachorro sem coleira? Perdeu pontos!

Gamificação da Vida

É a gamificação da vida. Ao melhor estilo Black Mirror. Pode parecer uma ideia simpática, mas o problema é que ao ter uma pontuação baixa, você vai ter problemas para ter uma boa casa, alugar um carro ou até mesmo, ter acesso à uma universidade ou conseguir um emprego. Em casos mais graves, pessoas com pontuação baixa perdem o direito de viajar, e não importa se têm o dinheiro para pagar.

No final das contas, somos todos humanos e todos cometemos erros. Só não sei, o quanto é justo rebaixar a qualidade de moradia de uma pessoa, só porque ela não atravessa na faixa. Essa é uma boa discussão e precisaremos da ajuda de filósofos para chegar a uma resposta. A ONG Human Rights Watch enxerga esse sistema com preocupações, pois em um futuro breve, o governo pode usar inclusive critérios políticos para aumentar ou abaixar a pontuação de uma pessoa, o que é muito preocupante.

E o que nos reserva o futuro?

Pode parecer uma daquelas coisas que só se espera da China, mas muitas democracias ocidentais estão aumentando o monitoramento de seus cidadãos. É o caso da Alemanha, Itália, Bélgica, Brasil, dentre outros, que já estão usando os dados de deslocamento, captados pelas antenas de celular. Em outros lugares como Coréia do Sul, Rússia e Israel, os governos estão monitorando dados de celular, GPS, cartão de crédito e até mesmo câmeras de vigilância.

Já as câmeras de vigilância merecem um capítulo à parte, pois estão espalhadas por todos os lugares. Principalmente se falarmos das câmeras com tecnologia de reconhecimento facial. Já presentes em muitos países, inclusive no Brasil, essas podem ser utilizadas para alimentar os sistemas que vem sendo criados para monitorar as pessoas e até mesmo atribuir uma pontuação social. Elas representam o fim da privacidade, pois você estará sendo monitorado e identificado 24 horas por dia, em todos os lugares.

Todas essas medidas já estavam em curso antes da pandemia, a questão é que vinham caminhando a passos lentos. O que o Coronavírus fez, foi acelerar a implantação de muitas dessas medidas, e talvez ao final de tudo a maior vitima da Covid19 tenha sido mesmo a privacidade.

O outro lado da moeda

Por outro lado, a pandemia também trouxe coisas boas, que continuarão com a gente no futuro:

As fake news podem estar com os dias contados, e isso é uma ótima notícia. O primeiro passo para que isso aconteça foi, algumas redes sociais como Facebook, Twitter e Instagram, começarem a apagar posts (inclusive de chefes de estado) propagando informações mentirosas sobre a doença. Por um lado, é bom, pois diminui a desinformação. Mas por outro, é ruim, pois não deixa de ser um ato de censura por parte das empresas.

Ainda em prol do fim das fake news, temos a nosso favor que todos os que não acreditam na doença, e por isso não se cuidam, tem maiores chances de contrair a infecção. Afinal, o vírus não se importa se você acredita nele ou não. Isso é bom, pois a pessoa terá a chance de sentir na pele que o vírus existe, e com isso, terá também maiores chances de passar a acreditar na ciência. Vitória da Razão, e um possível fim de muitas teorias da conspiração que vão contra o racional (alô Planilsons!).

Será o home office o novo padrão?

O trabalho remoto (ou home office) pode acabar ganhando bastante força. Muitas empresas, que nunca consideraram essa possibilidade, podem adotar o home office como padrão. Ou então, abrir a possibilidade para que seus colaboradores trabalhem de casa alguns dias por semana.

Não significa que escritórios vão acabar, pois ainda são espaços de trabalho importantes para muitas pessoas (lembre-se que nem todos gostam ou podem trabalhar de casa) e são também importantes para a socialização e a integração das equipes. Mas, provavelmente significa que muitos escritórios vão diminuir de tamanho, reduzindo custos para as empresas, sem necessariamente diminuir a produtividade.

Uma coisa que todos pudemos constatar é que somos, sim, animais sociais. A evolução nos moldou assim, e hoje podemos constatar o quão importante é para nós (até mesmo os introvertidos, como eu) os relacionamentos com outros humanos. Acredito que depois disso tudo passaremos a valorizar mais a interação humana, e momentos com amigos e família passarão a ter mais relevância.

No campo profissional, podemos começar a dar mais importância para feiras, congressos e eventos do tipo, principalmente se muitos tiverem o home office como suas novas realidades. Uma vez que esses momentos serão boas oportunidade para construir relacionamentos e fazer novas conexões. E isso é bom, pois o Zoom que me perdoe, mas ainda não inventaram nada melhor do que a presença física.

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Esperamos que este artigo tenha sido esclarecedor para você. Estamos formando uma legião de empreendedores bem-sucedidos, vamos juntos?

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Afonso Pimenta

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