O impacto do Coronavírus na economia

Um estudo recente, divulgado pelo banco JP Morgan, revela que o coronavírus terá impacto real no crescimento econômico do primeiro trimestre de 2020, tanto a nível global quanto a nível regional. Mesmo considerando que o surto comece a perder força em breve, o dano a curto prazo já está feito na economia chinesa, com reflexos nas economias de diversos países ao redor do globo.

A projeção do banco é que a taxa de crescimento global anualizada para o primeiro trimestre de 2020 seja de 1,3%, a pior performance do índice desde a crise financeira global de 2008. O mesmo estudo revela que os analistas do banco esperam que todo o impacto negativo seja recuperado até o final do ano.

Hoje é possível dizer que o principal efeito imediato do coronavírus, na economia global, se dará nos resultados da aviação comercial, hotelaria e cruzeiros. A China é a pátria de cerca de 20% do total de turistas globalmente falando. Considerando que muitos países estão com restrições severas acerca de voos ligados à China, é esperado que a participação dos chineses no turismo global venha a cair consideravelmente.

Muitos veículos de comunicação vêm comparando o surto atual do coronavírus com a SARS. Porém, o impacto hoje para a indústria do turismo tem potencial para ser consideravelmente maior.

Em 2003, ano de aparecimento da SARS, os chineses eram 4% dos viajantes no mundo, como mencionado anteriormente, o número atual é praticamente 5 vezes maior. A IATA, órgão representativo das companhias aéreas no mundo, revelou que as empresas aéreas devem deixar de faturar cerca de US$ 29,3 bilhões este ano graças ao coronavírus.  

Outros setores também vêm sendo impactados e bolsas de valores ao redor do mundo todo registraram perdas significativas nos últimos dias. O movimento demorou para atingir a B3, graças ao carnaval, mas no retorno às negociações, o impacto foi bastante forte na bolsa paulista.

No Reino Unido a Jaguar Land Rover informou que está ficando sem peças para continuar montando seus automóveis e que vêm trazendo peças dentro de malas para manter a linha de produção funcionando. A interrupção na produção e escoamento de autopeças na China pode significar a parada da linha de produção britânica da tradicional montadora inglesa.

O segmento do varejo de luxo, que tem a China como um de seus principais mercados, também vem sendo negativamente impactado, com lojas físicas fechadas por toda a China. Marcas como a Hermés, já se organizam para emitir posicionamento oficial para seus investidores. A Apple também já veio a público informar que pode haver problemas no fornecimento de seu principal produto, o iPhone, pois as fábricas chinesas que o produzem estão fechadas. 

Um estudo, realizado pela consultoria britânica Oxford Economics, considerou alguns cenários diferentes para o resultado do impacto do coronavírus na economia global.

No cenário mais pessimista, aonde o coronavírus de fato se espalha fortemente para outros continentes, virando uma pandemia global, pode-se esperar uma redução do crescimento global em cerca de 1,3% neste ano de 2020. O que, em valores monetários, representa uma perda de US$ 1,1 trilhão.

Em um cenário mais realista, aonde o maior impacto é de fato na Ásia, o impacto negativo esperado no crescimento global em 2020 deve ser de 0,5%, equivalente a US$ 400 bilhões.

Outra consultoria, a Capital Economics, foi bem mais conservadora em suas considerações: disse que a situação na China ainda está se desenrolando, e ainda não está claro o quanto a quarentena, decretada em boa parte da região central do país, vai afetar o mercado de trabalho e as empresas locais. Essa consultoria ainda não mensurou com precisão o real impacto do coronavírus na economia.

De acordo com as considerações da consultoria, cerca de 85% das grandes empresas de capital aberto no país, tem caixa o suficiente para arcar com seus compromissos e folhas de pagamento por cerca de seis meses, sem nenhum faturamento novo. Isso as deixa em uma situação muito mais confortável do que as pequenas e médias empresas, que podem começar a ter problemas de caixa dentro de um mês.

Talvez ainda seja um pouco cedo para de fato quantificar a real dimensão do impacto na economia causado pelo coronavírus. Alguns analistas prevêem um impacto maior, outros menor, conforme pudemos ver nas diferentes opiniões apresentadas.

Fato é que em uma economia globalizada, como a que temos hoje em dia, problemas ocorridos do outro lado do mundo podem ter impacto direto em múltiplos mercados do lado de cá. E a interrupção de uma fábrica de autopeças na China pode acabar por parar uma montadora de automóveis no Reino Unido. E como previu Herbert McLuhan, de fato vivemos em uma aldeia global.

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