No artigo anterior tratamos da questão da volta da quarentena e refletimos um pouco sobre esse “Novo Normal” tão falado; aqui vamos conversar sobre a ideia de que o mais importante não é pensarmos quando vamos voltar e sim, como vamos voltar?
Se compreendermos que não existe um “Novo Normal” e sim uma nova forma de vida, uma maneira nova de nos entendermos como indivíduos atuantes e transformadores em nossa sociedade; essa maturidade nos dará ânimo para encarar o desconhecido que logo baterá a nossa porta.
Tem sido muito comum ouvirmos durante os últimos meses questionamentos e até mesmo reclamações em relação ao tempo; a demora de tudo isso, a ansiedade que a espera traz para nós, quando é que tudo será normalizado; e diante dessas falas quero compartilhar com vocês algumas reflexões que tenho feito.
A primeira delas é buscarmos entender a nossa relação com o tempo. E o mais desafiador aqui se trata do controle sobre o tempo que a gente não tem e sobre o que a gente não sabe.
Uma vez que herdamos culturalmente a ideia de termos sempre repostas prontas para todas as coisas, receitas para os nossos problemas e grandes ideias para nossas dificuldades, nos deparamos diante de uma situação que não sabemos: não sabemos até quando isso vai, não sabemos como será o amanhã, não sabemos quando estaremos prontos para essa volta. Nós não sabemos de tantas coisas e precisamos aprender a lidar com isso.
Vivemos grandes conflitos com o tempo que as coisas têm. Mas, a impressão que eu tenho é que é possível que a nossa relação dificultosa com o tempo das coisas, seja anterior a pandemia; é claro que agora tudo isso potencializa ainda mais, mas é legal perceber e reconhecer como podemos refletir e organizar em nossa mente a construção sábia dessa nossa relação com o tempo.
O tempo é uma ferramenta de aprendizado e por meio dele construímos o momento presente, vivemos o agora, nos tornamos menos ansioso e caminhamos em busca de alicerce, de algo mais sólido para o nosso crescimento seja pessoal ou profissional.
Tenho conversado com algumas pessoas durante esses meses de isolamento social e a pergunta que não quer calar é: “Será que as pessoas têm consciência de que nós não podemos ser as mesmas pessoas, aquela que éramos antes de tudo isso começar?”
Eu não tenho a pretensão de responder essa pergunta. O que posso deixar claro aqui é o meu desejo de refletirmos sobre tudo o que tem acontecido no mundo e que sejamos sim pessoas diferentes, mais conscientes, que valorizemos mais as pessoas a nossa volta, que enxerguemos o ser humano em sua totalidade.
Quando eu falo em enxergar o outro, quero especificamente aqui refletir com você: como é que o outro está? Como estão seus familiares, seus amigos? Como estão seus clientes, seus parceiros, seus líderes, seus colaboradores?
Se pararmos para exercitar esse pensamento: “como eles estão?”, automaticamente poderemos ser conduzidos para o pensamento: “como eles voltarão?”.
Será que estamos preparados para lidar com todas as perdas que tivemos nesta pandemia? Veja bem, quero tratar da perda aqui em sua totalidade.
A perda de entes queridos, tem sido uma dolorosa realidade para muitas pessoas, vidas se esvaíram: pais, mães, filhos, maridos e esposas, amigos… Não voltarão mais, deixarão apenas saudade e lidar com o luto que já é tão doloroso, neste momento tão confuso e conflitante para todos se torna quase que impossível de administrar.
Do ponto de vista pessoal, muitos a nossa volta perderam seus trabalhos, perderam o mínimo de conforto que tinham diante de uma questão social/econômica, perderam oportunidades de negócios, perderam a convivência com seus familiares e amigos. E como estamos preparados para lidar com essas pessoas e suas perdas?
Do ponto de vista coorporativo, o nosso olhar para os recursos humanos, neste momento, se intensifica mais. Como as empresas vão lidar com o retorno das atividades com seus colaboradores? Como irão lidar com essas perdas: do convívio social, dos relacionamentos, das perdas em relação ao contato e aprendizado com todo o time, em equipe, que ficou perdido?
Nas escolas, professores perderam oportunidades de estarem presentes com os alunos e ajudarem em suas construções cognitivas, intelectuais. Os alunos perderam o contato com os colegas: a brincadeira no recreio, a bagunça nos corredores, a interação na sala de aula. Eles ficaram apenas com uma pequena parte dentro de um contexto escolar, as aulas.
Enfim, são muitos os casos que eu poderia apresentar aqui, mas a ideia é pensar: como voltaremos de tudo isso, como lidaremos com as perdas acumuladas nesse contexto e como estamos preparados para nos apoiar em rede?
Não há dúvidas que todos esperamos por esse retorno, pelo convívio, rever os amigos, abraçar as pessoas, voltar ao trabalho, mas vamos olhar para trás e colocar em prática todas as experiências que estamos vivendo, cada um a seu modo, com seu ponto de vista, dentro do seu contexto, mas cada experiência vale, cada ajuda vale!
Que essa nossa conversa aqui, nos ajude a pensar não apenas em nossa ansiedade de voltar logo e sim pensarmos em como iremos voltar, para isso é fundamental olhar para dentro: ressignificar, reaprender, olhar para quem está ao nosso lado, nos importar com o outro.
O futuro está aqui para ser reinventado e ele já começou!
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Kalil é palestrante, pedagogo, empresário e especialista em Propósito e Felicidade no Trabalho. Em sua coluna aqui no portal escreve sobre propósito, gestão de pessoas, recursos humanos e motivação.
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No articulo fala de todas as "perdas" e como sairemos desta situação... e se pensamos no que ganhamos, no que aprendimos, no que ensinamos?
E se focamos nos novos sentimentos nas novas emoções, nos novos projetos???
Só estava me perguntando...