Será que estamos prontos para retornar da quarentena? Podemos entender que o retorno às nossas atividades se torna ainda mais desafiador do que quando iniciamos o isolamento social; então vamos falar sobre o retorno da quarentena e a nossa relação com o “Novo Normal” que tem sido muito comentado nos últimos dias.
Por Kalil Lucena
Primeiro é importante entendermos que naturalmente temos uma certa limitação em lidar com situações inéditas, do ponto de vista pessoal e profissional, pois isso requer de nós muita disciplina, calma e organização. O inédito causa angustia nas pessoas!
Neste caso, a angustia está relacionada com certas duplicidades de conceitos que temos vivido nesses últimos meses.
Entender como se estabelece essa questão da ambiguidade dentro da nossa cabeça é algo muito complexo.
Quando tudo começou, lá atrás, por um lado identificamos uma certa facilidade e felicidade em trabalhar de casa, de estar com os horários mais flexíveis, de ficar mais na companhia dos filhos ou da família, não estar no trânsito, otimizar o nosso tempo, enfim, pensamos de maneira positiva e no lado positivo de toda essa situação pandêmica.
Já por outro lado, vivendo a experiência do isolamento social, nos inquietamos com tal realidade vivida: os desafios de estarmos mais sozinhos, a falta que faz os relacionamentos de trabalho, o contato em geral, as relações humanas e até mesmo as discussões. Lidamos com a dificuldade de trabalhar de casa, uma ideia um pouco distorcida de um home office, o que na verdade não é, a loucura de nos dividirmos entre trabalho, os afazeres de casa, a educação das crianças e a adaptação a tudo isso, enfim, tivemos que experienciar o outro lado da moeda.
Fato é, ao mesmo tempo que imaginávamos que isso seria “bom”, tivemos dificuldade com essa adaptação. E agora: mesmo querendo voltar com a nossa vida “normal”, temos o medo de não saber lidar com esse retorno também.
Todo esse conceito do pensar que é bom e não validar o quão positivo isso tem sido para a nossa vida mais relacional, nos faz viver essa duplicidade na nossa cabeça. O que resulta em angustias ao não sabermos lidar com tudo isso.
Cada um de nós vivemos experiências diferentes durante o isolamento social. No Japão, por exemplo, o número de suicídios diminuiu devido a um menor impacto causado pelo estresse, por conta da dura rotina de trabalho, onde as pessoas ficando em casa, com suas famílias, ficaram literalmente mais protegidas!
Todos nós, de certa maneira, estamos esperando por esse momento de voltar a nossa rotina e nos relacionar com as pessoas. A questão é que, voltar para a nossa rotina e viver esse “novo normal” requer de nós inteligência, disciplina e muita organização; requer de nós maturidade e um desenvolvimento comportamental, humano ainda mais objetivo e sedimentado.
Temos que fazer esse retorno de maneira consciente, controlando a nossa ansiedade e buscando compreender que ainda estamos em uma situação difícil, do ponto de vista daquilo que tem sido apresentado para nós como “normal”
Não acredito que esse termo, tão popular, sendo falado em todos os meios de comunicação e até mesmo discutido entre as pessoas, seja o que realmente se estabelece levando em conta o contexto atual que vivemos.
Do ponto de vista semântico, normal vem de normas. Se apresenta de certa forma como algo que pode ser padrão, comum a todos, o que na verdade sabemos que não se aplica na prática.
Podemos até refletir sobre a normalidade, fazendo uma autorreflexão: somos normais? As pessoas que nos cercam em nossas rotinas são normais? O que é normal?
Sabemos que a normalidade, em um contexto mais abrangente se aplica a cada um de nós e até nos aproxima, porém acredito que entender de uma maneira ressignificativa sobre o normal faz parte desse momento: somos “normais” com nossas diferenças levando em conta realidades especificas.
A diversidade da normalidade de certa forma já é excludente!
Os estados e cidades terão acesso à essa “normalidade” em períodos e de formas diferentes, assim como a população em geral.
O termo “Novo Normal” não se aplica na prática, pois somos diferentes e temos vivido experiências completamente diferentes, dentro daquilo que vivenciamos como dificuldades e desafios.
A ideia é pensarmos que vivemos em uma grande rede e precisamos compreender que devemos nos reconstruir de maneira mais modesta, mais humilde, com mais clareza e compreender o que não sabemos.
Não somos mais aquelas pessoas de alguns meses atrás, não somos e nem podemos ser. Essas experiências trouxeram para nós um cuidado e um olhar mais abrangente sobre a comunidade em que atuamos, sejam elas no sentido pessoal ou profissional.
Talvez possamos pensar em uma nova forma de vida e não um novo normal.
Diante de um processo de retorno a nossa vida, uma nova forma de viver, que possamos olhar com cuidado para o que está ao nosso lado: nossos familiares, nossos vizinhos em comunidade e rede, nossos colaboradores, nossos parceiros, enfim, as pessoas como um todo. E entender que, de mãos dadas podemos não apenas viver um novo normal, mas sim, construir um novo futuro!
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Kalil é palestrante, pedagogo, empresário e especialista em Propósito e Felicidade no Trabalho. Em sua coluna aqui no portal escreve sobre propósito, gestão de pessoas, recursos humanos e motivação.
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